Estamos sempre descobrindo o que queremos esconder. E essas pequenas partes são preciosas; não há que se dividir com os outros. Elas pertencem ao nosso eu interior; não precisam ser expostas à apreciação e julgamento alheio. É como se a vida fosse um cubo mágico, com infinitas possibilidades de combinações. Porém, aquelas que só nós conseguimos criar, devem ser guardadas do mundo para que não percam a essência.
Sempre estamos buscando no dia seguinte uma chance para nos sentirmos satisfeitos com a vida. Queremos que, de repente, algo aconteça de bom e nos encha de alegria. Se o hoje não está a contento, por que seria amanhã o dia de sorrir? O que estamos fazendo neste momento, que possibilidades estamos criando para que a plenitude se aproxime? Se o problema está nos outros, não seria hora de se afastar um pouco e descobrir o que está errado? Será que o erro não é nosso?
Ninguém nos completará em plenitude. Temos dias de sonhos e noites de pesadelos e isso pode não coincidir com os mesmos dias e as mesmas noites de quem está conosco. Não é porque estou para lágrimas que a pessoa ao meu lado deverá chorar também. As minhas combinações podem não estar no mesmo ritmo das combinações do outro. Por que querer conduzir os passos em dupla se a música atual tem uma nota só?
Viver é uma necessidade. Se feliz ou triste, é apenas um detalhe. A questão é ser coerente com as expectativas: não se pode procurar pelo azul quando se está tentando encaixar o vermelho. É preciso apagar histórias mal vividas para poder estampar um novo quadro na parede. E mesmo que isso leve muito tempo, faz-se necessário descobrir o que o atormenta e o que o faz feliz de fato, o que o inibe e o que o encoraja. A partir disso, é expandir as suas fronteiras para um único alvo.
Somos sós. Somos únicos. Ninguém consegue partilhar das mesmas emoções o tempo todo. Temos as nossas preferências, os momentos ruins que destoam da história que, de repente, estamos vivendo. E já que somos enigma, não devemos esperar que o outro entenda o nosso presente desajuste. É uma viagem desconhecida que pode ter curta ou longa duração. Quem pode prever que o campo em que estamos pisando não está minado? Não se pode depositar sonhos e planos na vida que não lhe pertence. Cada um tem a sua história e só deverá dividir o que houver para ser dividido. Há uma parte que é só nossa.
Escreva a sua vida de acordo com a vontade presente. Simule-a se for preciso, dê a ela todas as possibilidades, descompromissando-a de simetria. Dramatize, romanceie, satirize, atinja o topo sem se cansar muito. Não seja flexível demais para não se perder e não tente tirar da cabeça aquilo que está no seu coração...
[Luciana Penteado]
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