Sempre me senti diferente dos outros. Não mais bonita, não mais inteligente, não mais especial, não mais esperta, não mais maluca, não mais legal, apenas diferente. E mais sardenta. Sou diferente na forma de sentir, tudo que me toca, me toca fundo. Tudo que me alegra, me alegra muito. Tudo que me dói, dói forte, corta. Nunca tive muitos freios em matéria de sentimento. Sempre que eu quis ir, fui. Muito me estrepei. Sempre que quis falar, falei. Muito me ralei. Aprendi um pouco a calar, a tentar respirar fundo e pensar.
Me importo demais com as pessoas que amo. Quem eu gosto levo comigo no peito. Me preocupo, procuro ajudar no que posso (e, confesso, muitas vezes no que não posso também). Não sou uma ninja nem a Mulher Maravilha, sou apenas uma mulher que tem sentimentos intensos. E grandes. Não vale a pena sentir pequeno, se é pra ser, que seja com tudo que pode. Com tudo que existe, com todas as forças, com tudo que tem de bom e de ruim. Tenho lá meus extremos. Comigo é 8 ou 80, é ou não é, foi ou não foi. Não sou muito paciente e isso muitas vezes me traz transtornos. Mas procuro, acima de tudo, ser eu. E se errei, desculpa, mas eu consigo dizer. Tem gente que esconde. Nem sempre eu chego e falo "errei, foi mal, desculpa aí". Muitas vezes mostro de outras formas. Nem tudo precisa ser dito através de palavras, apesar de eu adorar tê-las por perto.
Às vezes, me sinto deslocada. Vou contar um segredo pra você: sou o tipo de mulher que não trai. Verdade, nunca traí. Acho a traição uma coisa tão suja e puta. A palavra por si só já é feia e tem som estranho. Não gosto, não cabe em mim. Traição não é o meu número, fica apertado. Juro, nunca traí nem em pensamento, nem virtualmente, nem nada. Nunca nem flertei, pisquei olho, joguei o cabelo ou tentei seduzir alguém com algum gesto. Se eu estou com alguém, estou com alguém. Acho que as pessoas precisam ter respeito. Cansou, não dá mais, o sentimento se perdeu, não tá mais a fim? Diz. Fala. Termina. Cai fora. E depois solta a franga. Antes, não.
Tenho pânico de traição. Já conversei sobre isso no divã, em mesa de bar e com minha cadela. Mulheres da minha família já foram traídas, já acompanhei de perto algumas histórias. Amigas minhas já foram traídas, já acompanhei de perto algumas histórias. E morro de medo. Sei que na vida nada é garantia de nada. Amanhã mesmo o cara que hoje é o amor da minha vida pode conhecer uma mulher e se apaixonar e me dar um pé na bunda. Mas se acontecer, por favor, converse comigo antes de fazer qualquer coisa. Prefiro assim, mesmo que eu sofra, que doa, que machuque. Não vou morrer, não. Por mais amor que se tenha, ninguém morre de amor. A gente se quebra todinha, mas sobrevive. Tudo dói, mas o tempo deve curar. Peço que tenha a decência de conversar, de respeitar o amor que teve um dia. Me dê um tchau antes de dar oi para alguém. Sei que o coração é imprevisível, pode balançar a qualquer momento, mas manda ele se aquietar só um pouco, me fala o que precisa e depois segue em frente. As coisas são simples. O amor não pode ser complicado. Se ele existe, existe. Se deixou de existir, tudo bem, dizem que nada é eterno. Ou que só é enquanto dura. Enquanto durar, que seja honesto e digno.
Sou o tipo de mulher que tem a foto do namorado no celular. A foto, não, as fotos. E na carteira também. E deixo bilhetes, faço surpresas, escrevo textos românticos e sonho casar num lugar bonito e ter uma filha bonita. O tempo fez com que eu entendesse que contos de fadas existem. Mas não aqueles dos livros. Existem os da vida real, que falham, chegam atrasados, mas chegam. Estão lá, sempre. Por isso, insisto: não admito gracinhas e frescuras. Riram da minha cara ao ver que eu tinha foto na carteira. Que coisa fora de moda. Oi? Amar é fora de moda? Você acha brega ter uma foto na carteira? Eu não acho. Você acha brega não olhar para o lado? Eu não acho. Desculpa, você pode estar me achando uma tapada. Às vezes eu sou mesmo. De vez em quando me sinto uma idiota, boba, trouxa, que acredita em tolices. Mas essa sou eu, idiota, boba, trouxa, que acredita em tolices e é diferente dos outros.
Não faço reunião para comentar sobre o colega gatinho. Não tenho tesão pelo cara que trabalha lá no lugar tal. Não sinto vontade de dar para outros caras. Nem de beijar. Nem de ficar de frescura. Não suporto gente que fica de abracinho, dando indireta, fazendo brincadeirinha com conotação sexual. Uma coisa é a brincadeira, outra é a brincadeira com um quê de verdade. A gente sabe e sente. Tem muito colega de trabalho que é carinhoso, querido e prestativo sem querer nada. Já outros querem tudo. Tem muita mulher que fica se esfregando, sentando no colo, abraçando, beijando, falando merda. Tenho certeza que se os namorados vissem tal comportamento não gostariam nadica de nada. Assim como tem muito homem que se passa com as mulheres, ficam dando letrinha, falando coisas que podem ser mal interpretadas, flertando, paquerando. Acho deselegante e desleal.
Tem gente, eu sei, que me acha meio extraterrestre. Alô, Clarissa, oi, olha o fulano, viu o fulano, já reparou na cor da cueca do fulano. E eu fico boiando, sem entender, porque não presto atenção. E não presto atenção porque realmente não me importa. Cada um tem o seu jeito, o meu é esse. Acho que muita gente fica flertando porque precisa se sentir desejada. Mas, francamente, não tem nada melhor que ser desejada pela pessoa que está ao seu lado. Fim.
(Clarissa Corrêa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário