A Dança

Entre todas as coisas emocionantes, esse poema de Pablo Neruda certamente é uma delas. Um trecho deste soneto foi recitado no filme 'Dr. Patch Adams - O Amor é Contagioso', quando o médico Patch (Robin Williams) recita-o no túmulo Carin (Monica Potter)... lembram-se dessa parte? Tarefa difícil é não ficar com aquele nó na garganta nessa cena, eu sei.
Pois bem, segue a poesia completa para as apaixonadas de plantão se deliciarem!


A Dança
Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio
Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Antes de amar-te, amor, nada era meu:
Vacilei pelas ruas e as coisas.
Nada contava nem tinha nome.
O mundo era do ar que esperava
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se dependiam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo.
Caído, abandonado, decaído,
Tudo era inalianavelmente alheio.
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

Um comentário:

Duarte disse...

Eu só mudava uma coisa neste poema, na segunda estrofe, 5º verso: "Tão perto que tua mão sobre o meu peito é a minha"
Este poema é lindo

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