Como todo adolescente que viveu o fim dos anos de 1970 e início da década de 1980; Michael Jackson foi fonte de alegrias, entretenimento e momentos de pura libidinagem ao lado de algumas namoradas.
Observar, ao longo de minha vida, a forma quase dantesca com a qual ele transformou o seu corpo e todas as mazelas emocionais, legais e de toda ordem que pululavam em sua vida, foi uma experiência que só pode ser compreendida agora; já na minha maturidade.
A grande verdade, em minha opinião, é que Michael Jackson só era ele mesmo nos palcos. Apenas sob os holofotes e aplausos do público ele era feliz e vivo. Lá, ele estava acima dos preconceitos e das cobranças; das mentiras e das verdades; de tudo que não era a sua verdadeira paixão: a música.
Independente de pesarem sobre ele sérias denúncias de pedofilia e abusos contra menores, a verdade mesmo é que nada foi provado. Até porque, numa sociedade como a americana, os acordos extrajudiciais calavam a boca de testemunhas e familiares e, por sua vez, não podiam eximir o cantor do ataque de oportunistas.
Verdade ou mentira, seus problemas pessoais eram esquecidos ou ofuscados quando a sua genialidade musical tinha espaço para aflorar e se manifestar. Nos palcos, o atormentado e frágil menino explorado e maltratado se transformava num Deus brilhante e benévolo. Pronto a compartilhar de sua grandeza com os pobres mortais que o adoravam. A dança, a música, a técnica e a criatividade perdem muito com a morte de M. Jackson.
Deixo claro que julgo aqui o artista. O gênio inquieto e atormentado por fantasmas de seu passado. O ídolo que esbanjava graça, simplicidade e simpatia. Um ser humano que, com defeitos e virtudes, contribuiu para o avanço das artes musicais e para o surgimento de uma identidade musical em seu país totalmente diferente de tudo o que havia antes dele.
Como alguns outros grandes gênios musicais da humanidade, Michael Jackson morre jovem. Como Hendrix, Joplin, Elvis, Lennon e tantos outros; ele sai da vida e se transforma num tipo de ser diferente. Um semideus alçado a categoria de divindade por milhões de admiradores e fãs ao redor do planeta. Alguém que daqui a cinquenta, cem ou mais anos talvez continue a ser lembrado como gênio inovador e mestre no que fazia.
Alguém disse que, para ser um gênio, é preciso antes de tudo ser um atormentado e um inconformado com o mundo que o cerca. E vemos isso com total clareza na figura do menino negro franzino e de fala macia que apanhava do pai para ensaiar; saído do gueto do racismo estúpido americano e que acabou fazendo até os mais reticentes engolirem o seu talento e a sua força artística gigantesca.
Antes de erigirmos estátuas oportunistas e cantarmos hinos, devemos entender o que ele tinha na alma de artista. Ver com seus olhos sonhadores e pensar suas ideias de um mundo melhor, sem preconceitos, sem ódio, sem crianças espancadas, mortas ou lutando nas guerras, um mundo onde o ser humano fosse apenas isso… humano.
O homem teve defeitos e deixa dúvidas. Atormentado pela mídia, por seu passado e por seu presente, o artista conseguiu superar isso tudo e passar para a história como alguém irrepreensível no que fazia e um mago das multidões.
Para o homem, o pano desceu e o show acabou. Mas, para a lenda, a eternidade apenas começou.
(1958-2009)
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